A ABBC Educacional conversou com Fábio Lopes Araujo, do Departamento de Educação Financeira do Banco Central do Brasil. Fábio ministra a palestra Gestão de Finanças Pessoais e Educação Financeira, realizada na sede da ABBC como parte da Semana Nacional de Educação Financeira, que aconteceu em maio deste ano. Trabalha com o tema há 10 anos e já escreveu um romance sobre uma família e seus problemas financeiros. Confira nossa conversa!
Como surgiu seu interesse por educação financeira?
Antes de me tornar servidor no Banco Central do Brasil, trabalhei em uma gestora de recursos e ativos financeiros (asset management). No tempo que estive lá, vi que não apenas o investimento em caderneta de poupança, mas outros produtos do mercado de investimentos também eram acessíveis para pessoa física. Só que a maioria das pessoas têm pouco conhecimento, estão fora desse mercado. Me senti atraído pelo tema, por disseminar informações, e comecei a fazer alguns cursos na área.
Quando o interesse pelo assunto passou a fazer parte de objeto de estudo para você?
Já trabalhava no Banco Central, na área de Fiscalização de Consórcios, e ainda não existia o Departamento de Educação Financeira, apenas um grupo de trabalho interno sobre o tema. Tive a oportunidade de participar de seminários e estudos específicos. Então, ao acumular algum conhecimento, decidi escrever um artigo sobre a criação da área, ideia que já estava sendo debatida internamente. Em parceria com Marcos Pimenta, escrevemos em 2012 o primeiro artigo para discussão do Banco sobre o tema: “Educação Financeira para um Brasil Sustentável - Evidências da Necessidade de Atuação do Banco Central do Brasil em Educação Financeira para o Cumprimento de Sua Missão”.
Na sua visão, como podemos melhorar o conhecimento das pessoas em gestão de finanças pessoais?
Conversar sobre dinheiro sempre foi um tabu. A maioria dos brasileiros preferem caminhos mais rápidos para resolverem seus problemas financeiros. Não querem dedicar tempo para usar o crédito de maneira consciente ou para montar uma carteira de investimentos adequada às suas características. Precisamos criar a cultura de que lidar com dinheiro não é complicado. O Banco Central do Brasil decidiu atuar em educação financeira para atingir plenamente sua missão. Hoje faz parte da Estratégia Nacional de Educação Financeira, a ENEF, e um dos trabalhos em andamento é a inserção desse tema nas escolas públicas. Já foram realizados dois projetos-piloto, envolvendo também outros parceiros como o Ministério da Educação.
O que você acha sobre educação financeira para crianças?
Bom, quanto mais cedo começamos a passar conceitos às crianças, melhor. Só que de maneira adequada: não adianta querer entregar uma planilha de controle de gastos a elas. Mas funciona fazê-las refletirem se faz sentido guardar brinquedos; usarem o que possuem; serem disciplinadas; e usarem recursos de forma consciente. Tudo isso traz consequências para o futuro uso adequado do dinheiro. Um grande erro é querer ensinar controle de gastos para crianças pequenas. Não vai funcionar... será chato, inapropriado.
E como teve a ideia de escrever um livro?
Ao longo de minha carreira fui anotando a experiência das pessoas em um caderninho, principalmente as coisas engraçadas da relação que possuem com o dinheiro. Demorou para eu ter toda a história na cabeça e levei praticamente um ano para colocar as ideias no papel. O livro “A Sociedade da Fortuna” serve para qualquer pessoa, mas pensei em alunos do Ensino Médio. Ele está disponível gratuitamente no site em www.sociedadedafortuna.com.br. É um romance sobre a história de um garoto aprendiz de cozinheiro com dificuldades em organizar as finanças. Porém, um dia lhe propõem um desafio e, caso tenha sucesso, conseguirá entrar para o seleto grupo da Sociedade da Fortuna e descobrir toda a verdade sobre o dinheiro.
Onde as pessoas podem encontrar mais informações e dicas sobre finanças pessoais?
No site do Banco Central, na sessão “Cidadania Financeira”, há diversos materiais que podem ser acessados por download, como o Caderno de Educação Financeira. Tem também os vídeos da série “Eu e Meu Dinheiro” e cursos online, que são produzidos pelo banco e estão à disposição gratuitamente.
Fabio de Almeida Lopes Araujo é autor do livro “A Sociedade da Fortuna” e coautor do artigo técnico “Educação Financeira para um Brasil Sustentável”. Graduado em Administração de Empresas pela EAESP-FGV e pós-graduado pela Business School São Paulo, é servidor do Banco Central do Brasil desde 2006 e membro da International Network on Financial Education (OCDE).